A atriz norte-americana Angelina Jolie anunciou nesta terça-feira, dia
24 de março, que se submeteu a mais uma cirurgia preventiva contra o câncer.
Desta vez, a cineasta retirou os ovários e as trompas de falópio. Há dois anos
ela já havia passado por uma mastectomia (retirada da região interna da mama),
que também fora feita de forma preventiva. Por meio de um artigo publicado no
jornal New York Times, a atriz explica que recorreu ao procedimento porque tem
uma mutação no gene BRCA 1 que representa um risco de 87% de desenvolver câncer
de mama e 50% de sofrer câncer de ovário.
No artigo intitulado Angelina Jolie Pitt: Diary of a Surgery (Angelina
Jolie Pitt: Diário de uma Cirurgia, na tradução livre), ela comenta a decisão.
"Eu estava planejando isso há algum tempo. É uma cirurgia menos complexa
do que a mastectomia, mas seus efeitos são mais graves. Ela coloca a mulher na
menopausa forçada. Então, eu estava me preparando fisicamente e emocionalmente,
discutindo as opções com os médicos, pesquisando medicina alternativa, e
mapeando os meus hormônios para substituição de estrogênio ou progesterona",
conta.
Angelina foi tratada pela mesma médica que cuidou de sua mãe, que
morreu de câncer no ovário. "Sei que meus filhos nunca terão que dizer:
'mamãe morreu de câncer de ovário'. Agora, estou na menopausa. Não serei capaz
de ter mais filhos, e espero algumas mudanças físicas. Mas, eu me sinto à
vontade com o que virá, não porque eu sou forte, mas porque esta é uma parte da
vida. Não é nada a ser temido", completa a atriz, mãe de seis filhos, três
biológicos e três adotivos.
Palavra de especialista
O fato de ter um histórico de câncer na família não significa que as
pessoas devam procurar um médico para a retirada de órgãos que possam ser
afetados pela doença. O oncologista Alexandre Pieri Chiari, da clínica Oncomed,
explica que o caso de Angelina Jolie é uma exceção. "Uma pequena fração da
população possui mutação dos genes BRCA 1 e BRCA 2. A Angelina representa essa
parte da população, por isso, ela se submeteu ao procedimento de risco. A
retirada das mamas, trompas e ovários vão reduzir muito a chance de ela ter
câncer. Entretanto, a população precisa saber que o caso de Jolie é uma
exceção, e não, uma regra", explica o especialista.
Todo ser humano possui os genes BRCA 1 e BRCA 2, cuja função é impedir
o surgimento de tumores por meio da reparação de moléculas de DNA danificadas.
Quando um desses genes sofre mutação, ele perde essa capacidade protetora e
deixa a pessoa mais suscetível ao aparecimento de tumores malignos como câncer
de mama, de ovário e de próstata.
Estima-se que apenas 0,1% da população possua os genes BRCA 1 ou BRCA
2 modificados. Portanto, Alexandre Chiari não recomenda que as pessoas saiam
pesquisando o gene indiscriminadamente. "A existência de câncer em um
familiar não pressupõe que você tenha essa mutação genética. É recomendado
fazer um aconselhamento genético quando um parente de primeiro grau possui
diagnóstico de câncer antes dos 50 anos de idade", ressalta o oncologista.