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sábado, 14 de março de 2015

Nossa história: Impeachment nas ruas há 51 anos

 Em março de 1964, o governador paulista Adhemar de Barros convocava a população a se manifestar pelo afastamento de Jango, mas foram os militares que depuseram o presidente

Esse é o remédio legal. Está previsto na Constituição e pode ser aplicado ao chefe da Nação, que foi à praça pública pregar a subversão à ordem.” Com essas palavras, proferidas há 51 anos em cadeia nacional de rádio, o governador paulista Adhemar de Barros encerrava sua convocação para que a população fosse às ruas em defesa do impeachment do presidente João Goulart. Era um fim de tarde de domingo – 15 de março de 1964 –, dois dias depois de Jango anunciar a decisão do governo federal de implantar as chamadas reformas de base para mais de 100 mil pessoas, em comício em frente à estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Duas semanas depois, militares mineiros puseram as tropas e os tanques em direção ao Rio para dar o golpe e destituir o presidente.

O meio político brasileiro atravessava um dos fins de semana mais tumultuados de sua história. Em pleno domingo, o Congresso Nacional retomava as atividades sob efeito do discurso feito por João Goulart no estado da Guanabara. As movimentações contrárias ao governo federal tinham forte apoio da bancada e de lideranças mineiras. O governador Magalhães Pinto, em rota de colisão com Goulart desde 1963 e em sintonia com Adhemar de Barros, se tornou um dos mais ferrenhos críticos da administração federal.

Em tom de ameaça, o deputado cearense Armando Falcão (PSD) disparava contra uma tentativa de golpe comunista que estaria sendo articulada por Jango. Segundo Falcão, a pretexto de promover as reformas de base, o presidente estaria preparando terreno para um estado totalitário nos moldes da União Soviética em território brasileiro. O impasse se formou logo no primeiro dia de trabalho dos parlamentares: “Enquanto o senhor João Goulart for presidente, não votaremos nenhuma emenda constitucional”, ameaçou o parlamentar. A maioria dos deputados criticou a mensagem presidencial enviada ao Congresso para a abertura do ano legislativo. Goulart detalhava ponto a ponto suas promessas para livrar o Brasil da miséria e pedia um “exame desapaixonado” dos parlamentares para encarar as mudanças necessárias ao país.

O resultado não poderia ser pior. Ao longo da semana, várias bancadas estaduais rechaçaram as propostas de Jango, consideradas esquerdistas e comunistas. Nos bastidores, o governador paulista articulava uma maneira concreta para retirar o presidente do poder, enquanto avançavam as negociações sobre o impeachment. “Devido às tais atitudes subversivas do governante, que enfraquecem nossas instituições, não vemos outro caminho que sua imediata destituição”, afirmou Adhemar.

A insatisfação ganhou as ruas em 19 de março, quando cerca de 300 mil pessoas fizeram passeata na capital paulista, partindo da Praça da República até a Praça da Sé. Organizada pela União Cívica Feminina e apoiada por setores da Igreja e partidos conservadores, os participantes lançaram no mesmo dia o “Manifesto ao povo do Brasil”, convocando a população para derrubar Jango. Nos dias seguintes, a marcha se repetiu em várias capitais, levando milhões de brasileiros para as ruas em defesa do impeachment presidencial. No entanto, as articulações do governador paulista para destituir João Goulart por meio do impeachment foram atropeladas por outra articulação que ganhou força dentro dos quartéis. Em 31 de março, os militares tomaram as ruas do Rio e tiraram Jango da Presidência da República, dando início à ditadura militar.


O GRANDE ASSALTO O governador paulista Adhemar de Barros, articulador do impeachment que não se concretizou, entrou para a história com um lema que acompanharia vários políticos brasileiros: “rouba, mas faz”. Em suas gestões como prefeito da capital paulista e governador de São Paulo, surgiram várias denúncias de enriquecimento ilícito. As que tiveram maior repercussão vieram à tona em 1954, quando o governador teria comprado, com dinheiro público, 11 automóveis e 20 caminhões da General Motors. Depois de quitados, ele teria pedido à montadora que refaturasse os veículos em nome de outras empresas e os distribuído a seus parentes e amigos. Em março de 1956, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou Adhemar a dois anos de prisão e suspendeu seus direitos políticos. Mas, dois meses depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) o absolveu das acusações.


Mesmo depois de morrer, em março de 1969, Adhemar foi personagem no episódio do roubo ao cofre de sua amante Anna Grimel Capriglione. Em junho, em um dos períodos mais duros da ditadura, 11 militantes da VAR-Palmares invadiram a mansão de sua amante no Bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, renderam todos os funcionários e levaram o cofre. O montante roubado é estimado em cerca de R$ 15 milhões, em valores atualizados. Segundo militantes que participaram da ação, a presidente Dilma Rousseff (PT), então iniciante nos movimentos de combate ao regime militar, ajudou a trocar parte do dinheiro em uma casa de câmbio no Copacabana Palace.