A percepção
de que a demanda está fraca e que as vendas não devem se recuperar nos próximos
meses aumentou a chance de cortes de vagas no comércio, uma das atividades que
ainda sustenta o mercado de trabalho no País. Em fevereiro, o quesito de
emprego previsto para os próximos três meses ficou pela primeira vez abaixo dos
100 pontos, um indicativo de que mais empresas pretendem diminuir pessoal do
que contratar, segundo a Sondagem do Comércio divulgada nesta semana pela
Fundação Getulio Vargas (FGV).
"O
setor já vem em desaceleração desde o ano passado, e a possibilidade de cortes
aumentou, seja na forma de não contratar para repor alguém que saiu ou de
demitir, mesmo", afirmou o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da
FGV, Aloisio Campelo.
Neste mês, o
quesito de emprego previsto ficou em 98,2 pontos. Isso significa que a fatia de
comerciantes que pretendem cortar vagas é 1,8 ponto porcentual maior do que a
parcela daquelas que vão aumentar. Desde o início da série, em março de 2010, é
a primeira vez que isso ocorre.
A virada na
tendência de emprego foi disseminada. De todos os setores, apenas o comércio de
veículos já apontava intenção de demitir já em meados de 2014. Agora, materiais
de construção, atacado e os setores mais tradicionais do varejo (que compõem o
chamado segmento restrito) manifestam a mesma pretensão.
Campelo
lembrou que o comércio, segmento importante no setor de serviços, é um grande
empregador. Por isso, a tendência negativa apontada na sondagem preocupa,
embora os dados quantitativos ainda mostrem geração de postos de trabalho.
Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que, a
despeito de a taxa de desemprego ter aumentado na passagem de dezembro para
janeiro, o comércio gerou 13 mil vagas nas seis principais regiões
metropolitanas do País que compõem a Pesquisa Mensal de Emprego.
Além disso,
as avaliações de demanda fraca no momento presente, diante da decisão do
consumidor de priorizar gastos essenciais e ter de equilibrar o orçamento,
também atingem as expectativas, o que sinaliza que os comerciantes não esperam
recuperação nas vendas.
"Mais
de um terço das empresas listam demanda insuficiente em fevereiro. É um
recorde", mencionou o superintendente. "O empresário prevê
continuidade desse processo de desaceleração, e tudo isso bate na questão do
emprego", acrescentou.
Neste mês, a
confiança do comércio despencou. A queda foi de 8,8% ante janeiro, a mais
intensa da história. O resultado também fez com que o nível chegasse ao piso da
série. Além da percepção sobre a demanda, a tendência de negócios para os
próximos seis meses também vai mal, na visão dos empresários. A recomposição
das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) contribuiu para
desanimar o setor, especialmente os de bens duráveis.